Gostaria de iniciar este texto citando Brené Brown, uma conferencista que se autodenomina “contadora de histórias” e autora de um dos maiores best sellers, intitulado “A Coragem de Ser Imperfeito”. Ela afirma neste livro que o sentido da vida é estabelecer conexões, ratificando o senso comum de que o ser humano foi concebido para viver em sociedade e sem a qual ele nada seria. Além disso, tais conexões estão relacionadas a nossa capacidade de colocar a vida em movimento e assim obter “resultados”.
A natureza humana
Graças a perfeição da natureza humana, já viemos “programados” fisiologicamente a reagirmos a estímulos emocionais. Paralelamente, ao longo de nossa existência, nos moldamos às exigências desses círculos sociais a fim de atendermos às regras de convivência. Desta forma, somos reconhecidos como pessoas de caráter e consequentemente aceitos.
Apesar de parte desse comportamento ter sido provavelmente herdado, a maioria das decisões e atitudes que tomamos são baseadas em nosso sistema de crenças e valores, os quais são construídos de forma mais acentuada nos primeiros anos de vida.
De uma forma geral, tudo parece fluir naturalmente e ninguém deveria se preocupar em como tudo funciona. Em outras palavras, deve-se deixar que a vida se encarregue de moldar as pessoas. Mas são os indivíduos que detêm tal consciência (autoconhecimento) que de fato conseguem se potencializar e acabam se diferenciando daqueles que vivem como “zumbis”, esperando que a sociedade conspire a seu favor e que os resultados caiam do céu.
Pois só se vê bem com o coração
Enganam-se aqueles que pensam que as habilidades interpessoais (Soft Skills) são características pertinentes a um grupo seleto de pessoas bem sucedidas. Nesta seara, não existe certo ou errado. Creio que o mais adequado seria dizer aderente ou não.
Atualmente, grandes organizações levam muito mais em consideração a capacidade de um candidato se conectar e de fortalecer a equipe, do que seu conjunto de competências (Hard Skills) comprovadamente declaradas. Isto porque o acesso e a transferência de novos conhecimentos têm se tornado cada vez mais facilitados através das tecnologias existentes, acelerando de forma acentuada as curvas de aprendizado. Entretanto a mudança na forma de agir e de pensar de um indivíduo já formado ocorrerá de forma lenta e gradual, salvo se não houver nenhuma situação adversa.
Uma pesquisa realizada pela plataforma de treinamento do LinkedIn, entre os +600 milhões de profissionais cadastrados, relaciona as cinco habilidades interpessoais mais valorizadas pelas instituições:
Criatividade
Foco na solução de problemas ou na criação de novas oportunidades
Deixemos as atividades rotineiras e mecanizadas para a próxima geração de robôs e para os algoritmos de força bruta. Estes nunca irão substituir a capacidade humana criativa de “imaginar” soluções originais e não óbvias para problemas considerados complexos ou insolúveis, pois isso só é possível quando se é capaz de quebrar paradigmas e mudar de nível. Por esta razão, as empresas estão apostando cada vez mais em equipes diversificadas, sem se importarem com classe social, cor, credo, preferência sexual ou qualquer outra forma de preconceito.
Negociação
Foco na diplomacia
Possui sua base na devida escolha da estratégia e em uma comunicação de qualidade, considerando aspectos como: cordialidade, objetividade e assertividade. Envolve ainda a gestão de conflitos e a persuasão entre as distintas lideranças. Neste aspecto, as empresas buscam indivíduos capazes de indicar a “causa raiz”. Esses indivíduos costumam liderar pelo bom senso e pelo exemplo, ao invés da autoridade.
Colaboração
Foco na integração
Envolve a “inteligência coletiva” na qual indivíduos que se permitem suspender julgamentos e ouvir com atenção, desenvolvem uma enorme capacidade de empatia. Assim, abrem a mente a novas possibilidades e passam a contribuir efetivamente com o processo.
Adaptabilidade
Foco no alinhamento estratégico
Em um mundo que parece girar cada vez mais rápido, a sobrevivência está intimamente ligada à capacidade de se adequar a novas circunstâncias. Neste sentido, a primeira opção pode não ser adequada mas, a última e a mais perfeita provavelmente chegará tarde. De certo, no mundo dos negócios, só existe a incerteza! A tempestividade, associada às duas primeiras soft skills serão responsáveis pelos resultados obtidos. O conservadorismo parece não ser aplicável nos tempos de crise.
Inteligência Emocional
Foco na interação humana
Esta habilidade tomou o lugar da “gestão do tempo” em pesquisas anteriores. Talvez seja a de maior importância e a que requeira maior esforço, pois envolve o autoconhecimento e o desenvolvimento de mecanismos de autocontrole das emoções, bem como o reconhecimento e trato das emoções alheias (consciência social).
Essas habilidades não são fáceis de se desenvolver, pois exigem uma certa consciência para que se desenvolva uma mentalidade progressiva. Muitos profissionais e empresas especializadas se dedicam a este segmento voltado ao desenvolvimento humano.
Veja algumas dicas que serão bastante úteis no desenvolvimento dessas habilidades
Seja ético
Significa abrir mão do individualismo em prol do coletivo, ou seja, devemos sempre promover a regra do “ganha-ganha” para que haja justiça, contribuindo para um clima favorável que transmita segurança a todos.
Pratique o senso crítico
As decisões e ações devem se basear em dados e fatos. Os “achismos” abrem margem a julgamentos pessoais, mascarando as reais causas e retardando a efetiva solução dos problemas.
Busque a autorresponsabilidade
De uma forma meio paradoxal, é necessário aprender a “andar sozinho, juntos”. Somos exclusivamente responsáveis por aproveitarmos as oportunidades que aparecem, mas não podemos nos esquecer de que fazemos parte de uma equipe.
Adquira hábitos positivos
O tempo é escasso, logo é preciso manter o foco e a disciplina, sempre respeitando as regras e o ritmo do grupo. Assim, para se obter um melhor aproveitamento, precisamos eliminar os “sabotadores” e incorporar novos hábitos que estejam mais alinhados com nossas metas.
Cultive a curiosidade
Exercitar a mente e se permitir novos desafios faz qualquer um sair da zona de conforto. Devemos ser ávidos por conhecimento, pois o que era realidade ontem já não se sustenta hoje. Do passado só trazemos as lições aprendidas, mas é no presente que construímos o futuro. Logo, se você não se atualiza, acaba se excluindo do jogo.
Seja bem humorado
Indivíduos capazes de suportar grandes pressões também são capazes de levar a vida com suavidade, dando a devida importância às circunstâncias, sem inflamá-las ou menosprezá-las.
Essas habilidades são difíceis de serem mensuradas. Testes objetivos são facilmente aplicados para a identificação de competências, mas quando se tratam de seres humanos, é necessário ir muito além de um simples olhar, pois só se vê bem com o coração!
Ricardo Cister
MSC, PMP, QMSLA, MASTER COACH.
a coragem de ser imperfeito. só se vê bem com o coração